Ser o dia mundial da pessoa idosa é motivo para comemoração, sem dúvida. Afinal, o marco não existiria caso esse segmento etário não tivesse sua importância e legitimidade para o bem-estar social. Este dia representa um projeto de nação, uma realidade em que as pessoas vivem cada vez mais devido a diversos fatores, sendo questão de alguns anos para que o contingente de pessoas idosas supere o número de outros segmentos etários.
Por outro lado, o marco não serve somente para refletir e reverberar o benefício do envelhecer, como também lembrar dos desafios. Viver mais não significa necessariamente viver melhor. E “viver melhor” não se limita à dimensão biológica do complexo vital. Não são apenas as doenças crônicas não-transmissíveis que preocupam a regulação de recursos e ações para a promoção do envelhecimento saudável. A realidade em que estamos inseridos em muito infere sobre como iremos viver, sendo população já idosas ou ainda no processo de chegada a tal fase da vida. Em um amplo cotidiano ainda promotor de mitos e estereótipos, alheio às especificidades do envelhecer, legitimador de preconceitos e discriminações, não só no tocante ao envelhecimento como também à outros segmentos, fica evidente o tamanho do árduo trabalho ainda pendente. E este trabalho não se apresenta em termos abstratos ou educacionais, no tocante ao imaginário social, mas reverbera em esferas mais tangíveis da vida cotidiana.
Lembremos o período de explosão da pandemia em solo brasileiro, em que era comum visualizar um cenário de “caça às bruxas” no tocante aos idosos. Propagandas infantilizadoras, recheadas de non sense e promotoras de preconceitos, ilustravam feed de notícias em muitas redes sociais. No mundo material, a dificuldade em gerir ações de isolamento versus a manutenção de autonomia e independência contribuíam para o fomento desse quadro. Os 0,5% a menos no contingente de pessoas idosas no território nacional não reflete somente o acometimento de uma doença aguda repentina, como a Covid-19. Esquecemos, coletivamente, que a pessoa idosa não está inserida em um contexto homogêneo. Ainda, esquecemos que cada caminho até atingir e passar os 60 anos é único. Nem todos possuem rede de suporte que o amparem durante um período de isolamento. Heterogeneidade é uma característica importante no olhar não somente para envelhecimento, mas para a condição humana integral.
Que este Dia Mundial da Pessoa Idosa nos sirva para lembrarmos de nosso futuro. E em que condições estaremos quando atingirmos a velhice? Em que bairro, cidade, estado, país e mundo estaremos inseridos em nossa velhice? Que rede de símbolos e significados estará norteando a imagem do que é ser velho? Olhar o envelhecimento e a velhice é olhar para si mesmo. Seremos velhos, inevitavelmente. Cada vez mais.