A atuação do gerontólogo em Programas de Universidades Abertas à Terceira Idade

Ao falar sobre a Gerontologia enquanto ciência que estuda o processo do envelhecimento, observamos que a sociedade ainda possui pouco conhecimento acerca desse campo, subjugando-a, muitas vezes, apresentando nenhum conhecimento, ou estereótipos e preconceitos quanto aos objetivos desta área de conhecimento. Neste sentido é importante destacar que enquanto profissão, a Gerontologia forma o profissional Gerontólogo, este quem cursou o Bacharelado em Gerontologia, sendo um profissional multidisciplinar e de atuação interprofissional que ao se formar está apto a atuar em três principais âmbitos, sendo estes os eixos: biológico, o psicológico e o social, tendo a gestão como eixo transversal ao envelhecimento.

Nesse texto iremos falar sobre a importância da atuação desse profissional na área da educação permanente, especificamente no contexto das Universidades Abertas à Terceira Idade. A Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI) é um programa de educação permanente que atende o público 60+, com diversas oficinas, disciplinas nos cursos de graduação, atividades de lazer, e atividades culturais voltadas para atualização de conhecimento, promoção de saúde, interação social e de novos aprendizados.

As UNATIs possuem como objetivos principais, tirar e impedir o isolamento social do indivíduo idoso, ajudá-lo a criar novas relações sociais, quebrar mitos e estereótipos acerca do envelhecimento enraizados na sociedade, promover uma melhor qualidade de vida, proporcionar novos conhecimentos, dentre outros.

Em pesquisa realizada de 1991 a 1994 por Neri (1999), o público que procura esse programa possui como principais motivos: procura e atualização de conhecimento, busca de algo para descobrir sobre si mesmo, necessidade de contato social e para ocupar seu tempo livre. Esses motivos mostram o quão amplo e diversificado é esse campo de atuação e como se faz necessário o trabalho do Gerontólogo neste programa.

A primeira iniciativa pioneira do Brasil, nessa área, surgiu no ano de 1990 em Campinas, na Pontifícia Universidade Católica da cidade e serviu de modelo de inspiração nacional para outros programas de educação informal voltado ao público 60+, marcando também a evolução da Gerontologia Educacional no país.

Originando da ideia pioneira, a Universidade Aberta à Terceira Idade na USP teve início no ano de 1994, tendo seu nome alterado para USP 60+ em 2020. Desde o início da graduação, na USP, os alunos são estimulados a participarem das oficinas, como monitores ou ouvintes, a fim de vivenciarem como é a prática do Gerontólogo dentro das Universidades abertas à Terceira Idade.

A atuação deste profissional na UnATI é essencial, já que seu amplo conhecimento consegue suprir todas as necessidades, sejam elas em qualquer âmbito biopsicossocial e na atuação com as equipes interprofissionais. Nesta área, ele estará apto a apresentar, executar, gerir e analisar programas para esse público e também atualizar, assim como capacitar profissionais que queiram trabalhar com a população idosa.

A sua prática permite a criação e desenvolvimento de oficinas e de projetos que atendam o desenvolvimento no decorrer do ciclo vital fazendo interface com a geratividade, observando também as interações sociais, a fim de capacitar o público 60+ para os novos desafios da sociedade, sejam eles no contexto econômico, social e/ou cultural. Dentre as oficinas já existentes, há áreas inovadoras, sendo estas alfabetização digital, treino cognitivo e psicoeducação em saúde.

Conforme apresentado, o trabalho nas UnATIs não é apenas voltado na atualização de conhecimentos, mas também um espaço importante para trocas intergeracionais, permitindo que o público aprenda, assim como, passem conhecimentos vividos para a equipe e os demais, dialogando dessa forma sobre suas reflexões e individualidades. Adicionalmente, poder estar em um programa de UnATIs possibilita à pessoa idosa, o desenvolvimento ao longo da vida, o que chamamos de educação permanente.

Com as intervenções psicoeducativas o Gerontólogo pode trazer conhecimento acerca de doenças, de como prevení-las e dos tratamentos que envolvam remédios ou não, ajudando na prevenção e controle das mesmas, na importância de hábitos saudáveis e na conscientização de atitudes que venham a prejudicar o corpo, como um todo. Por fim, observando o grande conhecimento desse profissional, ele é o ideal para gerir as UnATIs, pois está apto a atuar junto a equipe de multiprofissionais, a promover uma melhor qualidade de vida para o público 60+, através das oficinas elaboradas de acordo a heterogeneidade dos grupos e perceber quando há necessidade de encaminhamento a outros profissionais, sejam eles nos diferentes âmbitos estudados pelo Gerontólogo. Essa atuação permite que cada vez mais haja o empoderamento desse público e o reconhecimento da importância do mesmo como mediador da promoção do envelhecimento saudável.

Referências consultadas

  1. LIMA-SILVA, Thais Bento et al. Atuação do gerontólogo em atividades no Programa de Universidade Aberta à Terceira Idade. Revista Kairós-Gerontologia, v. 15, p. 277-292, 2012.
  2. DA SILVA, Paula Fernanda Carlos et al. O papel do bacharel em Gerontologia na Universidade da Terceira Idade: um relato de experiência. Revista Kairós-Gerontologia, v. 18, p. 149-165, 2015.
  3. ORDONEZ, T. N., & CACHIONI, M. (2009). Universidade aberta à terceira idade: a experiência da Escola de Artes, Ciências e Humanidades–EACH USP. Revista brasileira de ciências do envelhecimento humano, 6(1).
  4. NERI, A.L. & CACHIONI, M. (1999). Velhice bem-sucedida e educação. In: Neri, A.L. & Debert, G.G. (Orgs.). Velhice e Sociedade (1), 113-140. Campinas (SP): Papirus.
  5. sem autor: Quem somos? Prceu/USP 60+, 2022. Disponível em: <https://prceu.usp.br/usp60/quem-somos/>. Acesso em: 17, março, 2022.

Assinam o texto

Maria Antônia Antunes de Souza

Graduanda em Gerontologia, pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Membro do grupo de pesquisa em Treino Cognitiva  da EACH-USP.

Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva

Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método SUPERA.

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