COVID-19 e a capacidade funcional do idoso: um olhar gerontológico

Você já parou para pensar no impacto que o distanciamento social pode ter na vida da pessoa idosa?  Ao longo dos últimos meses o mundo acompanhou o aumento do trabalho remoto, dos serviços de entrega e o fenômeno dos encontros online, shows, lives e aulas à distância, infelizmente não acessível a todos. Em um momento em que o contexto da pandemia delineou o grupo de risco para piores desfechos frente ao vírus, e a orientação de ficar em casa era uma das principais medidas protetivas, grande parte das atividades realizadas em ambientes externos ao domicílio saíram da rotina das pessoas mais velhas, e nela se incluem muitas práticas de exercícios físicos. E você já pensou que durante o  isolamento social idosos ativos podem ter apresentado um declínio em sua capacidade funcional?

Para esse tipo de reflexão, é importante entendermos que o envelhecimento provoca perda no sistema fisiológico de forma gradual, cumulativa que pode ser explicado por fatores genéticos e ambientais como nutrição, estilo de vida, atividade física e comorbidades. O próprio processo de envelhecimento é responsável por alterações significativas na composição corporal, tais como a redução da massa magra, densidade óssea, e aumento da gordura corporal. Sabe-se que a massa muscular diminui aproximadamente 8% por década a partir dos 50 anos e pode atingir 15% após os 70 anos. Esta rápida perda de massa muscular é acompanhada por uma redução da força e na potência muscular, resultando em sarcopenia e em casos mais graves quedas e morte (Yu et al 2016) Além dessas alterações, o isolamento social reduz o nível de atividade física ao longo do tempo, provocando menor sobrecarga mecânica ao sistema musculoesquelético, potencializado a perda de massa muscular, resultando em fragilidade, comorbidades e perda da capacidade funcional (Bell et al., 2016).

De acordo com Lorenço et al (2012), a capacidade funcional está relacionada a aspectos físicos, cognitivos e emocionais e a capacidade de executar tarefas cotidianas, simples ou complexas, necessárias a uma vida independente e autônoma na sociedade, mesmo com presença de comorbidades. Além disso, a capacidade funcional é um indicador do processo saúde-doença para o planejamento das intervenções e monitoramento do estado clínico da população idosa.

A atividade física tem também um aspecto social vital na construção de relações sociais, amizade e confiança entre os participantes. Além disso, as diretrizes de atividade física para idosos visam diminuir a incidência de doenças crônicas, reduzir a gordura corporal, aumentar a força, melhorar o equilíbrio e função cognitiva e promover a manutenção da capacidade funcional (OMS, 2020; Shvedko et al., 2018).

Uma vez que as medidas de proteção contra a pandemia obrigaram os idosos a permanecerem em isolamento social, podemos dizer que esta condição pode acentuar e acelerar ainda mais a redução da força, velocidade de caminhada, equilíbrio, agilidade com consequente aumento do risco de quedas e doenças crônicas. Fazem-se necessários o desenvolvimento de programas de treinamento físico em ambiente domiciliar para minimizar o efeito deletério de um estilo de vida sedentário sobre a saúde física e mental.

Com isso, não há dúvida de que a população idosa foi fortemente afetada pelas restrições de distanciamento social, e serão os últimos a regressar à rotina diária. O desafio é encontrar alternativas para promover saúde e bem-estar reduzindo os efeitos da pandemia neste público.

A exemplo de alternativas, destacam- se iniciativas como as de algumas ONGs que transformaram sua dinâmica de modo presencial para um sistema remoto, como o Instituto sempre em movimento que administrou suas atividades de modo virtual para os idosos, com voluntários de diversas áreas como educadores físicos, fisioterapeutas, estudantes, para que os idoso não sofressem tanto o impacto do isolamento social. (https://www.sempremovimento.org.br/).

E você? Como tem se mantido em atividade?


Referências consultadas

1- Shvedko, A., Whittaker, A.C., Thompson, J.L., Greig, C.A., 2018. Physical activity interventions for treatment of social isolation, loneliness or low social support in older adults: A systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Psychol. Sport Exerc. https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2017.10.003

2 -WHO, 2020. WHO Guidelines on physical activity and sedentary behaviour, World Health Organization.

3 -Jones, C.J., Rikli, R.E., Beam, W.C., 1999. A 30-s chair-stand test as a measure of lower body strength in community-residing older adults. Res. Q. Exerc. Sport. https://doi.org/10.1080/02701367.1999.10608028


Texto escrito por:
Gabriele Santos Naomi Sanches Profª Drª Thais Bento Lima da Silva
Estudante de bacharelado em Gerontologia na (EACH – USP); Integrante do grupo de pesquisa de Indicadores de vacinação em idosos 80+ com comorbidades (PIVIC80+); Foi pesquisadora no estudo risco de hospitalização de idosos e continuidade da assistência no hospital universitário HU-USP em 2018. Atuou como monitora no projeto envelhecimento ativo do hospital universitário da USP – HU-USP em 2019. Foi pesquisadora do estudo, efeito do treinamento resistido em idosos em isolamento social pelo COVID-19 em 2020. Ex diretora do jurídico financeiro da empresa júnior de gerontologia  – GerontoJr, Estagiária no residencial sênior terça da serra – Belém-PA. Bacharela em Gerontologia especialista em Nefrologia. Pós-graduanda em Gestão de Saúde, Assistente da diretoria científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Teve passagens por centro-dia, ILPI e operadora de saúde. Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. Diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). É assessora científica e consultora do Método Supera.

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